Acordar com o dia sem sol mas sem medo do cinzento. Começar o dia com toda a paciência e disponibilidade para o David, sem pressas, sem o tique-taque dos ponteiros do relógio a matutar na cabeça e sem a pressão de não poder passar daquele minuto. Fazer a viagem de bem com o cinzento do dia a olhar a paisagem. Manter a paciência e a disponibilidade para o David. Rir e falar sem me olhar e a olhar para os outros. Receber uma boa notícia e deixar o coração crescer sem limites de mostrar o quanto ele está cheio... de amor, de esperança, de alegria, de abraços. Ficar a olhar simplesmente e a deixar crescer o sol dentro de mim e para mim. Ficar a apreciar a felicidade do David e de quem gosto enquanto dentro do meu ventre um ser que cresce divide comigo o bater do coração cheio. O azul do céu e o azul da piscina. Deixar-me flutuar sem medo de me afogar a qualquer momento. Terminar o dia com toda a paciência e disponibilidade para o David, para mim, para o mundo. Sentir-me grata por estas horas perfeitas de simplicidade. Deitar-me sem medo do amanhã. Sem preparar(-me) para o que virá, com a certeza que venha o que vier eu vou ser capaz de o receber simplesmente... de braços abertos.
Aceitar o imprevísível, o inesperado. Receber, com coragem, as surpresas da vida. Deixar de planear. Deixar de controlar o que não é possível controlar e acreditar que a felicidade está nas coisas mais pequenas e simples... todos os dias.
Em tempos passados, na busca da relação perfeita, quando chegava ao fim das minhas forças sem que, conscientemente percebesse que a culpa não era de ninguém mas sim, que era impossível o por mim pretendido... eu virei costas, desisti, assumi que não tinha capacidade para atingir o que não era atingivel e... segui outro caminho. A partir do momento em que fiquei grávida do David e fui mãe, muita coisa mudou. Algumas das situações novas com que me deparei, deixaram-me confusa, perdida, com dúvidas e medos de falhar aqui e ali e acolá. Este foi e será o maior desafio da minha vida (não será o de qualquer mãe e pai?) mas também o primeiro em que por muito que eu sentisse que estava a falhar não podia nem queria fugir. Aquele que, por muito que eu quisesse que fosse perfeito sem nunca atingir essa perfeição, o amor era e é maior todos os dias. Nunca, mas mesmo nunca, de rastos, sem dormir, cansada, eu questionei o meu amor de mãe. O David foi a razão pela qual eu resolvi procurar ajuda e querer enfrentar o "touro pelos cornos" SEMPRE. Ele, e este bebé que vem a caminho, fizeram-me ver a importância de eu aprender a amar os outros e a amar-me com todas as imperfeições.
Aprender a amar(-me)
Durante muito tempo não percebi de onde vinha o meu mal-estar, a minha ansiedade e insatisfação constantes, o evitar inconsciente de situações e pessoas, o receio de não conseguir sempre superar-me nas mais pequenas tarefas... em busca do perfeito. É inevitável não olhar para trás. Por muito que saibamos que o passado é passado, ele está presente em nós. Para a frente é que é o caminho mas, se não tivessem sido os erros(?) acumulados e mal-resolvidos o caminho teria sido menos penoso. Tempo demasiado gasto em detalhes de merda não me permitiram viver em pleno com o que de melhor há na vida... o melhor e o mais simples... o melhor e o imperfeito... o melhor e o imprevisivel, o espontâneo e provavelmente... o mais verdadeiro. Só lamento as pessoas que fiz sofrer e, que no meio desta caminhada, amaram os meus defeitos sem eu nunca ter valorizado isso, julgando sempre, que isso seria impossível, face ao facto de não ser, independentemente da busca, perfeita. Eu também amei(-vos) mas queria mais... não que me amassem mais, não que eu me amasse mais... mas amar mais e mais e mais e mais... sem altos e baixos... até atingir a perfeição (impossível). Lamento só agora perceber e puder dizer que afinal... não é preciso mais... basta o Amor... mesmo com todos os seus defeitos!!!
Apesar de adorar escrever, o facto de este espaço ser público, embora não conhecido como tantos outros blogs que leio assíduamente, sempre medi as palavras do que escrevo e, muitas das vezes, não fui sincera (mais do que com os outros) comigo mesma. A verdade é que não há nada melhor para exorcizar fantasmas do que tratar os "bois pelos nomes". Se vou ferir susceptibilidades? Quanto maior for o nº de pessoas que lê um blog, maior será a probabilidade de haver pessoas que concordem ou não com o blogger porque, felizmente, somos todos diferentes. Mas, mais do que os outros possam pensar, opinar, formar uma opinião de mim (apenas) com base no que escrevo, o que importa é que este espaço é MEU. Foi criado para mim, para eu fazer o que mais gosto: escrever sempre que me apetecer, sobre o que me apetecer. Para mim funciona quase como uma terapia mas, que até aqui, foi feita de forma desleal por mim... tendo a minha pessoa sempre de fora a analisar cada palavra e sendo (até agora) a maior critica de mim mesma.
Ser menos vaga e menos dramática.
Redescrevendo o post anterior:
Hoje, uma colega de trabalho teceu um comentário sobre a nota que tive na minha Avaliação e Desempenho alegando que não era justa e que era muito acima do merecido. Disse ainda que, a mesma só foi atribuida, porque a cada departamento seria obrigatório a atribuição de pelo menos um 5 e como tal, a minha nota nada tinha a ver com profissionalismo. O que ela disse não mudou o facto de eu ter achado justo (com base na justificação que me foi dada na reunião e que eu pude contestar e reforçar) mas achei que seria algo que eu nunca diria a quem quer que fosse... importante ou não na minha vida, amigo ou simplesmente colega de trabalho. É isto, poderia ter dito algo semelhante a esta pessoa mas... sinceramente... achei que não valia a pena. Eu continuo a achar (e quero acreditar) que foi justa no meio do injusto que foram os 12 meses anteriores... e disso... só eu sei o que passei.
Dizer o que penso... a quem realmente importa. Algumas das situações na minha vida não ficaram resolvidas da melhor maneira por não ter dito, efectivamente, o que sentia ou pensava. Sempre tive alguma dificuldade em aceitar que o meu ponto de vista é relevante para que o outro perceba que foi incoveniente, magoou ou foi injusto. Que interessa isso? A minha realidade é diferente da realidade do outro e longe de mim acreditar que isso terá algum impacto positivo no outro. No entanto, interessa a quem nos interessa. Obviamente, que há pessoas na nossa vida, para as quais isso pode fazer alguma diferença. Quando gostamos e sabemos que o outro gosta... quando o outro é importante e pretendemos que permaneça na nossa vida... é importante não ficar nada por dizer para que a relação seja saudável e verdadeira. Nunca gostei de pessoas incovenientes, que dizem o que pensam sem pensar no impacto que poderão ter os seus comentários. Eu também digo coisas sem pensar... às pessoas de quem mais gosto, por isso também peço desculpa quando erro porque não quero perde-las. Mas a quem não me diz nada... a essas, não tenciono dizer o que penso, não pretendo se quer que elas saiam do lugar(zinho) delas nem fazê-las ver que não foram agradáveis, pura e simplesmente, porque me é fácil afastar e não fazer questão de as ter na minha vida. Elas não acrescentam nada à minha vida. Se me sentiria mais aliviada por dizer o que penso a TODAS as pessoas? Não... essas pessoas não me enchem de coisas boas... logo, não há nada para aliviar. Não subestimar pessoas é muito importante mas... não sobrevalorizar outras tantas também;)
É urgente rir mais.
Rir de mim.
Rir dos outros.
Rir com os outros.
Rir para os outros.
É urgente rir mais.
Aceitar-me a mim e aos outros como falíveis.
O blog do David
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