Entrei para a escola tarde. Beneficiada, em relação a tantas outras crianças, em mimos de mãe, perdi o comboio que me permitiria lidar (naquela etapa e em tantas outras futuras) de forma saudável com as frustrações e as advertências da vida. Creio que não abri boca o dia todo à excepção de quando a Senhora Professora me terá feito perguntas. O tempo que estive fora da sala de aula foi passado TODO junto às grandes portas de madeira que davam acesso às duas únicas salas de aula. A minha ficava à esquerda. Fiquei ali o tempo todo. No único lugar onde a minha mãe me havia deixado e portanto, seria ali (e em mais nenhum lugar) que ela me iria buscar. Não podia haver margem para erros. Eu esperava ansiosamente, ali plantada, a hora de vislumbrar o rosto da minha mãe para me levar para porto seguro. Era a mais calada bem-comportada, a primeira da fila para entrar quando soava o toque do fim do recreio, era a que ficava a supervisionar a sala de aula na ausência da Senhora Professora. Não posso dizer que gostava da escola. Queria, desde muito cedo, aprender a escrever e a ler. Acho que foi a minha maior ambição... poder formar palavras e frases para expressar tudo aquilo que não verbalizava e poder colocar tudo numa folha qualquer e esconder para ninguém ler(-me). Mas o que eu gostava na escola era tudo aquilo que a maioria não gosta e vice-versa. O que eu mais apreciava na escola era a exigência, a disciplina, o rigor, os detalhes, a pontualidade, a exactidão, a rotina... Da hora em que a minha mãe me deixava com a garantia que me iria buscar, precisamente à hora marcada, junto às grandes portas de madeira, sem falhar nenhum dia!
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