Gosto de cabeças no ar; de pessoas que acordam de manhã já com um sorriso na cara: da espontaneadade de quem abraça ou beija sem medo do que virá a seguir ou num futuro próximo; de quem não tem agendas e se desliga de tudo o que lhe ocupa muito espaço; da forma como algumas pessoas riem delas próprias; de quem faz amigos ou conhecidos a qualquer altura e em qualquer lugar; da ingenuidade de alguns que, mesmo depois de voltas e mais voltas e nós na vida, continuam iguais a si próprios e de coração aberto. Aprendo tanto com elas, sem elas saberem, sem eu lhes dizer nada!
Acordar com o dia sem sol mas sem medo do cinzento. Começar o dia com toda a paciência e disponibilidade para o David, sem pressas, sem o tique-taque dos ponteiros do relógio a matutar na cabeça e sem a pressão de não poder passar daquele minuto. Fazer a viagem de bem com o cinzento do dia a olhar a paisagem. Manter a paciência e a disponibilidade para o David. Rir e falar sem me olhar e a olhar para os outros. Receber uma boa notícia e deixar o coração crescer sem limites de mostrar o quanto ele está cheio... de amor, de esperança, de alegria, de abraços. Ficar a olhar simplesmente e a deixar crescer o sol dentro de mim e para mim. Ficar a apreciar a felicidade do David e de quem gosto enquanto dentro do meu ventre um ser que cresce divide comigo o bater do coração cheio. O azul do céu e o azul da piscina. Deixar-me flutuar sem medo de me afogar a qualquer momento. Terminar o dia com toda a paciência e disponibilidade para o David, para mim, para o mundo. Sentir-me grata por estas horas perfeitas de simplicidade. Deitar-me sem medo do amanhã. Sem preparar(-me) para o que virá, com a certeza que venha o que vier eu vou ser capaz de o receber simplesmente... de braços abertos.
... que não via um filme do príncipio ao fim.
Um dia levado ao limite equivale a dois. O alerta para tudo transformado num cansaço ao qual não dou tréguas. A minha cabeça a latejar. Pontos de interrogação para tudo e mais alguma coisa. Dúvidas, incertezas, receios... a bomba na minha cabeça que parece rebentar. Desejo incessantemente silêncio, parar o tempo e parar-me no espaço. Mesmo depois de tudo o que me possa sossegar o meu ritmo continua a mil. O meu coração a bombear, a minha cabeça a latejar. Sem forças para nada e forças para quê? Deixo de conseguir ouvir o meu coração pequenino. Deixo de conseguir sentir o melhor de mim, dentro de mim, no meu ventre. Respiro. Tento contar até 10 e não consigo fazê-lo sem ser à velocidade a que estou formatada. Repito para mim mesma que não há qualquer necessidade. Que não há qualquer beneficio na tentativa de me convencer a mim mesma que é preciso parar... parar de me impor limites.
... em que depois de acharmos que demos um grande passo em frente... ficamos com a sensação que, logo de seguida, andamos dois para trás.
Podia ser o filme da minha vida ou de tantas outras pessoas. Podia ser a história do primeiro amor de muita gente. Independentemente deste filme falar do amor entre duas mulheres, mais do que isso, ele fala do primeiro Amor. Da importância e do peso que ele tem na nossa vida e na forma como nos construimos e crescemos face a tudo o que ele envolve. A primeira vez que dois corpos dançam extasiados pelo prazer e embriagados do cheiro de quem se ama, do toque de quem se ama, do olhar de quem se ama... jamais se esquece. Sentir a primeira vez o amor, por muito imaturo que ainda se seja, é um marco na vida. A descoberta dos sentidos, do corpo e do prazer pela primeira vez, é um turbilhão na vida de um(a) adolescente. E, a meu ver, nunca será igual a outro! Não será melhor nem pior... simplesmente diferente. A primeira vez que se ama, e se descobre o caminho para lá chegar, também se descobre a dor. Dois sentimentos tão fortes lado a lado que nos atiram para a primeira constatação do efémero. O primeiro amor quase sempre acaba numa dor jamais sentida de igual forma. Também não quer dizer que seja maior ou menor... simplesmente diferente. E a verdade mais bonita desta história é que, mais do que a descoberta, mais do que a perda, o caminho continua. Nunca mais somos os mesmos. Nem melhores, nem piores... simplesmente diferentes.
Aceitar o imprevísível, o inesperado. Receber, com coragem, as surpresas da vida. Deixar de planear. Deixar de controlar o que não é possível controlar e acreditar que a felicidade está nas coisas mais pequenas e simples... todos os dias.
Em tempos passados, na busca da relação perfeita, quando chegava ao fim das minhas forças sem que, conscientemente percebesse que a culpa não era de ninguém mas sim, que era impossível o por mim pretendido... eu virei costas, desisti, assumi que não tinha capacidade para atingir o que não era atingivel e... segui outro caminho. A partir do momento em que fiquei grávida do David e fui mãe, muita coisa mudou. Algumas das situações novas com que me deparei, deixaram-me confusa, perdida, com dúvidas e medos de falhar aqui e ali e acolá. Este foi e será o maior desafio da minha vida (não será o de qualquer mãe e pai?) mas também o primeiro em que por muito que eu sentisse que estava a falhar não podia nem queria fugir. Aquele que, por muito que eu quisesse que fosse perfeito sem nunca atingir essa perfeição, o amor era e é maior todos os dias. Nunca, mas mesmo nunca, de rastos, sem dormir, cansada, eu questionei o meu amor de mãe. O David foi a razão pela qual eu resolvi procurar ajuda e querer enfrentar o "touro pelos cornos" SEMPRE. Ele, e este bebé que vem a caminho, fizeram-me ver a importância de eu aprender a amar os outros e a amar-me com todas as imperfeições.
Aprender a amar(-me)
Durante muito tempo não percebi de onde vinha o meu mal-estar, a minha ansiedade e insatisfação constantes, o evitar inconsciente de situações e pessoas, o receio de não conseguir sempre superar-me nas mais pequenas tarefas... em busca do perfeito. É inevitável não olhar para trás. Por muito que saibamos que o passado é passado, ele está presente em nós. Para a frente é que é o caminho mas, se não tivessem sido os erros(?) acumulados e mal-resolvidos o caminho teria sido menos penoso. Tempo demasiado gasto em detalhes de merda não me permitiram viver em pleno com o que de melhor há na vida... o melhor e o mais simples... o melhor e o imperfeito... o melhor e o imprevisivel, o espontâneo e provavelmente... o mais verdadeiro. Só lamento as pessoas que fiz sofrer e, que no meio desta caminhada, amaram os meus defeitos sem eu nunca ter valorizado isso, julgando sempre, que isso seria impossível, face ao facto de não ser, independentemente da busca, perfeita. Eu também amei(-vos) mas queria mais... não que me amassem mais, não que eu me amasse mais... mas amar mais e mais e mais e mais... sem altos e baixos... até atingir a perfeição (impossível). Lamento só agora perceber e puder dizer que afinal... não é preciso mais... basta o Amor... mesmo com todos os seus defeitos!!!
Apesar de adorar escrever, o facto de este espaço ser público, embora não conhecido como tantos outros blogs que leio assíduamente, sempre medi as palavras do que escrevo e, muitas das vezes, não fui sincera (mais do que com os outros) comigo mesma. A verdade é que não há nada melhor para exorcizar fantasmas do que tratar os "bois pelos nomes". Se vou ferir susceptibilidades? Quanto maior for o nº de pessoas que lê um blog, maior será a probabilidade de haver pessoas que concordem ou não com o blogger porque, felizmente, somos todos diferentes. Mas, mais do que os outros possam pensar, opinar, formar uma opinião de mim (apenas) com base no que escrevo, o que importa é que este espaço é MEU. Foi criado para mim, para eu fazer o que mais gosto: escrever sempre que me apetecer, sobre o que me apetecer. Para mim funciona quase como uma terapia mas, que até aqui, foi feita de forma desleal por mim... tendo a minha pessoa sempre de fora a analisar cada palavra e sendo (até agora) a maior critica de mim mesma.
O blog do David
Blogs que leio