Continuo surda do ouvido esquerdo, estou com uma "moca" enorme por causa do Brufen e a preparar-me psicologicamente para a possivel diarreia que o antibiótico vai causar.
Para além de tudo o que me tem acontecido e que não considero nada favorável ao meu estado psicológio (não é pessimismo gente... é a realidade), ontem, depois do jantar, tive pela primeira vez dores de ouvidos. O meu ouvido esquerdo estava a dar comigo em doida e, eu que fujo a sete pés de médicos, serviços de urgência e hospitais... dei por mim a chamar um médico para me acudir. Diagnóstico do Doutor: uma otite. Eu que descubra quem me anda a "picar o boneco"... eu que descubra!!!
Pior do que voltar de férias sem qualquer vontade para iniciar funções no local de trabalho, é chegar ao mesmo e ter, em cima da secretária, uma carta de rescisão. Tudo porque já assinei 3 contratos nesta empresa e, em alternativa à efectividade, fizeram-me a proposta de ir para casa durante um mês (de férias) para depois assinar um novo contrato com outra entidade e a receber menos 100 euros. Melhor proposta não seria possível... calculo.
... dos pequenos-almoços tardios de croissants quentinhos na Mabi em Vila Nova de Milfontes; dos finais de tarde na praia do Carrascal; da areia fina da praia dos Aivados; das ondas da praia do Malhão; da salada de polvo de Vila Nova de Milfontes; do arroz de marisco em Odeceixe; do pão alentejano; da cerveja geladinha; dos copos à noitinha; de não ter horas para acordar; de nunca saber o dia em que estava; do calor durante o dia e do frio à noite; da simplicidade e da simpatia dos habitantes de Odeceixe; da Tasca da Saskia; da paragem por Porto Covo; do branco e do azul das casas; dos girassois e dos campos de milho; de simpesmente não pensar; de viver um dia de cada vez; do cheirino a grelhados; de tudo... de cada cor, cheiro, sabor ou textura.
... foi a primeira amiga de todas as amigas. Foi a menina com quem brincava na rua desde os meus seis anos de idade. Foi a amiga com quem dormi mais vezes. Foi a primeira amiga a quem confidenciei segredos e a primeira de quem guardei segredos. Foi aquela amiga cúmplice das mentirinhas das saídas à noite. Foi aquela amiga com quem troquei as dúvidas da adolescência. Foi aquela amiga com quem fumei o primeiro cigarro. Foi aquela amiga das trocas de roupa, das compras e das férias juntas. Foi aquela amiga dos copos. Foi aquela amiga das discuções filosóficas e das dúvidas existênciais. Foi aquela amiga das lágrimas de dor, de amor, de injustiça e de tanto rir. Foi aquela amiga com quem se imagina o futuro e se faz projectos e se "combina" casar no mesmo dia. Foi aquela amiga das conversas até de madrugada e com quem se faz esparguete às três da manhã só porque sim ou se abre uma lata de leite condensado sem ninguém saber. Foi aquela amiga de quem se tem fotos de todos os aniversários. Foi aquela menina, que juntamente comigo cresceu e se tornou mulher... umas vezes mais perto... outras vezes a kilómetros de distância... foi e será sempre a melhor amiga por tudo o que acima escrevi e não escrevi (porque há coisas que fazem tão parte de nós que não há palavras que as descrevam). Foi e é aquela amiga que liga de longe, muito longe só para nos dizer: "- Vou ser mãe!" - e não conseguimos conter as lágrimas... e lembrar que um dia, lá muito atrás, saltávamos à corda, jogávamos ao bate-pé e os sonhos não nos cabiam nas mãos.
Já só faltam seis horas!!!
Hoje, para além do senhor da muleta (que assim que entrou sentou-se de costas, virou-se para trás e fixou o olhar em mim como se soubesse do meu pânico por ele e pela sua muleta), entra no autocarro um tipo com um olho virado para o céu e outro para a terra, que comprimentava todas as pessoas com um aperto de mão enquanto declamava provérbios e adivinhas. Mas isto não é tudo... hoje tive direito a um anãozinho como passageiro. Tenho quase a certeza que debaixo de um dos bancos do autocarro... estava o Peter Pan e a Sininho.
O senhor da muleta está para mim nesta altura como o tubarão esteve há 20 anos. E mal vejo o senhor da muleta entrar no autocarro com a sua arma que parece ter vida própria... em primeiro lugar surge-me a música do tubarão na cabeça, depois rezo uma ladainha: "- Não te sentes aqui. Não te sentes aqui por favor. Não te sentes nem ao meu lado nem à minha frente por favor." Tudo isto porque, ás vezes, basta uma má experiência para se ficar traumatizado para a vida toda. A primeira vez que viajei naquele autocarro com o senhor da muleta, este sentou-se ao meu lado quase com metade do seu rabo em cima de mim. Eu passei para o banco que estava à frente dele. Ele mandou-me com a muleta nas canelas (acho que ainda me doi) e de seguida... um pontapé no pé. Pior que tudo isto para mim, é o senhor da muleta não falar... nem para pedir desculpa.
Para alguns, ter a vida resolvida é, ter uma prestação mensal de uma casa até ao 60 anos (ou mais) com a taxa de juro a aumentar todos os meses. Para alguns, ter a vida resolvida é, ter um filho aos 30 anos no máximo das hipóteses. Para alguns, ter a vida resolvida é, casar antes dos 30 anos. Para alguns, ter a vida resolvida é, ser efectivo numa empresa independentemente de se gostar ou não do que se faz. Para alguns, ter a vida resolvida é ter, para além da prestação da casa, uma prestação de um carro. Para alguns, ter a vida resolvida é, ter alguém para dividir uma renda, contas mensais, Para alguns, ter a vida resolvida é, viver como a maioria das outras pessoas, tal qual carneirada, para não destoar muito, para não chamar a atenção, para não se ser a ovelhinha negra. Tudo isto me passaria ao lado se não fosse o facto de, quem me ensinou que a vida somos nós que a fazemos, que a felicidade está dentro de nós, que não importa o que os outros pensam, AGORA, aos quase 30 anos, quererem que eu resolva a minha vida sugundo os parâmetros acima mencionados e considerados os correctos(?).
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